O Comércio do Porto

Num período em que deixou de haver papel para a tinta correr, os jornalistas e demais trabalhadores de O COMÉRCIO DO PORTO encontram neste espaço a via para o exterior, por forma a manter viva a alma do jornal mais antigo de Portugal continental. Envie as suas mensagens para comercio151@hotmail.com

domingo, setembro 18, 2005

Bertrand edita comparação entre Estaline e Hitler


“Os Ditadores: A Alemanha de Hitler e a Rússia de Estaline”, de Richard Overy, é uma das grandes apostas da Bertrand para a rentrée literária que estamos a atravessar. Já a Quetzal, do mesmo grupo editorial, aposta na ficção com “A Caixa de Fósforos”, do norte-americano Nicholson Baker.
Richard Overy traça, em “Os Ditadores”, um paralelo entre as ditaduras de Estaline - na Rússia - e Hitler - na Alemanha - que presidiram aos regimes mais destrutivos da História, travaram uma dispendiosa guerra mas, mesmo assim, conseguiram mobilizar milhões de pessoas. O autor propõe-se a desmontar ideias feitas sobre as diferenças e semelhanças ente as duas ditaduras e procura dar resposta a algumas questões: como foram possíveis estas ditaduras? Como funcionaram? Que laço poderoso unia o ditador ao seu povo? Para isso compara a política, a ideologia, a economia e o sistema militar de ambas as ditaduras. Inclui ainda elementos da vida pessoal de cada um dos ditadores.
Richard Overy, segundo um press realese da Bertrand, entende que o apoio das populações decorre não de um estado de terror, mas de um estado de ilusão criado por ambos os regimes. As ditaduras, diz o estudioso, são “alimentadas pela aclamação das massas e pelo fascínio pelo poder sem restrições”.
O autor destaca uma questão fundamental: “Porque é que eles pensavam que tinham razão?”
Overy considera que os regimes liderados por Estaline e Hitler surgem como malformações decorrentes da catástrofe da Primeira Guerra.
Richard Overy é professor de História no King’s College, em Londres. É autor de diversas obras sobre a II Guerra Mundial e o Terceiro Reich. É membro da Academia Britânica desde 2000 e em 2001 foi galardoado com o Samuel Eliot Morison Prize pela sua contribuição para a história militar.

Até ao último fósforo

“A Caixa de Fósforos”, de Nicholson Baker , é um livro “sobre aquelas coisas em que não reparamos mesmo quando estamos a reparar nelas. Aquelas coisas que registamos de passagem, mas nunca ‘emolduramos’ - até que alguém como eu escreve um livro sobre elas. O livro é essa moldura”. A definição é do próprio autor, nascido nos EUA em 1975, que em Portugal já tinha publicado “Vox” (Gradiva, 1998) e “A Fermata” (Bertrand, 1998).
“A Caixa de Fósforos” é, segundo a editora, um trabalho de miniaturista, que celebra a existência nos seus mais insignificantes e triviais pormenores. Emmett, editor de manuais de medicina de meia-idade, levanta-se todos os dias às 4h30, prepara um café, acende a lareira com um único fósforo e senta-se no sofá a pensar. A substância do romance é precisamente esta: os pensamentos simples, coloquiais, de um homem insone discorrendo sobre os detalhes da vida doméstica, a mulher e os filhos, o gato e o pato, o suicídio e as formas que as labaredas assumem na lareira. Dia após dia, fósforo a fósforo, Emmett ilumina parte da sua consciência, até incendiar um mundo gigantesco de vivências minúsculas: experiências parcialmente esquecidas, inarticuladas. Quando a caixa de fósforos fica vazia, o romance termina.

Rui Azeredo